Vida Minimalista

De consumista a minimalista

A vida não vem com um manual de instruçães e nós seguimos nosso caminho nesse mundo fazendo experiências. Algumas dão certo, outras não. Às vezes nos sentimos cansados e frustrados pensando que não vamos conseguir.

Eu experimentei vários sentimentos de frustação, fracasso e até raiva de mim mesma quando tentei simplificar minha vida. E, principalmente, eu queria alcançar a tão sonhada independência financeira.  Estudei tudo que eu podia sobre o assunto de finanças pessoas, li livros como o O homem mais rico da Babilônia, Pai rico pai pobre, Adeus aposentadoria, até investi em um curso do Gustavo Cerbasi, que eu adorei.

No entanto, quando chegava na hora de construir um orçamento e respeitá-lo, era algo impossível para mim. Não conseguia entender porque tantas pessoas conseguiam e eu sempre colocava os dois pés na jaca. Ia ao cinema, lógico, o cinema é dentro de um centro comercial, eu via uma roupa ou um sapato que gostava e acaba comprando não só uma peça, mas várias e lá se iam os meus planos pelo ralo.

 Aí vinha o sentimento de culpa, de raiva de mim mesma e a tristeza. O sentimento de que eu nunca iria conseguir economizar, que nunca conseguiria comprar uma casa ou alcançar a minha independência financeira. Mas eu sabia a técnica, mas então onde estava o problema?

Autoconhecimento

Em 2010 minha vida virou de cabeça para baixo, tive uma doença muito grave e meu marido não me apoiou. Acabei me separando para cuidar de mim. Venci a doença e, como prêmio para mim mesma por ter tido uma segunda chance para viver, decidi juntar todas as minhas economias, o que havia sobrado do meu patrimônio. Sim, gente, eu gastei muito com terapeuta, medicamentos e tratamento. Mas estou viva e isso é o mais importante. Então, decidi fazer um mestrado em Paris.

Acho que era meu destino, em 10 meses, eu estava embarcando para Paris e inscrita em uma das melhores universidades Parisiense. Tudo encaixou tão certinho que era para ser.

Passei um ano sozinha longe de amigos e família, só estudando e tentando me reencontrar, afinal tudo estava diferente na minha vida. Nas minhas leituras, tiveram dois livros que mudaram a minha vida. O primeiro foi Comer, rezar e amar. Através desse livro, aprendi a meditar. E o segundo foi O poder do agora, nesse aprendi que o presente é um presente para nós e que devemos vivê-lo intensamente, mas não como eu pensava que era viver intensamente. Eu pensava que viver intensamente era sair de segunda a segunda, ter muitos amigos, viajar o mundo, saltar de paraquedas ou andar de balão. Que por sinal nunca mais farei, morro de medo de altura, não sei o que deu na minha cabeça para fazer isso.

Bem, voltei a viver intensamente e estar presente, por exemplo, estou aqui escrevendo este texto e meu pensamento está completamente focado no texto e nas ideias. Nenhuma outra ideia passa pela minha cabeça.

O prazer de sentir o cheiro e a textura de uma flor sem deixar mil pensamentos invadiram a sua cabeça. Sentir o gosto do bolo que você está comendo. Brincar de LEGO com o seu filho e voltar a ser criança. Fazer sexo com o amor da sua vida e sentir o calor da cor, o cheiro de paixão, os corações pulsando juntos como em uma dança.

Isso é viver intensamente! Posso dizer, não é fácil, a meditação ajuda no processo, mas eu estou sempre me policiando para estar presente. Afinal, a única coisa que tenho de verdade é o presente. O passado é história e o futuro a Deus pertence.

Quando eu entrei nesse processo, eu acho que o universo disse: “menina, agora você está pronta para aprender mais sobre você”. Encontrei em uma livraria um livro que falava sobre o estilo de casa Wabi-sabi, apaixonei-me pelas imagens, eram de casas que não eram perfeitas. Tinham sujeira, manchas e reboco estragado. Tive a sensação de sentir vida nas imagens. Alguém vive nesse lugar, tem história nesses objetos.

Fiz como as finanças pessoais, li tudo que eu podia sobre o assunto. E quanto mais eu lia, mais eu me identificava. Afinal, eu tinha feito a minha pós-graduação em Lean Manufacturing, que nada mais é que estudar as técnicas que fizeram da Toyota uma potência na indústria automobilística. Eu vi que eu poderia usar o Kaizen na minha vida. Mas minha cabeça fez bum quando eu aprendi a técnica Ikagai.

Ikigai – Marila Ribeiro

Nessa técnica você aprende a encontrar a sua essência. Você precisa fazer muita meditação, estar muito no presente. O segredo é se observar. Eu comecei a anotar algumas informações quando experienciava alguns sentimentos que respondiam às seguintes questões: Por que estou feliz? O que tem nessa situação que me faz bem? Por que estou com raiva? Por que estou saindo do trabalho tão cansada? Usei os porquê como uma criança faz. Depois de dois anos, eu encontrei meu Ikagai e vou dividir com você.

Ter uma vida urbana, mas poder fugir para a paz da praia quando eu sentir que estou começando a andar muito rápido. Estar perto das pessoas que eu amo, isso não quer dizer fisicamente. Ter um trabalho que me dê liberdade de tempo e lugar. Preciso ajudar as pessoas através da minha mensagem, isso me motiva a acordar todos os dias e continuar. Sou preguiçosa e daí?! Odeio o serviço da casa. Mas amo a minha casa. Preciso ler. Ler é uma forma de medição para mim, é o momento da minha alma se conectar com a alma de alguém que está no texto. Texto sem alma não consigo terminar. Adoro vinho e nunca serei alcoólatra como meu pai foi um dia. Adoro a história da moda, prefiro ter uma peça boa e símbolo da moda com uma história por traz do que ter dez blusinhas de fastfashion. Ter paz, tempo e paciência com o meu filho é fundamental para a minha felicidade. Preciso ter estabilidade financeira, ter dinheiro investido e dinheiro líquido para emergência. Sem isso, fico angustiada e me torno uma pessoa amarga e muito chata.

E o Ikigai, é  grande assim, é preciso ter tudo que é importante para você em todos os campos da sua vida. Essa sou eu,minha essência. Quando eu encontrei isso, eu consegui construir um orçamento familiar inteligente e que eu consegui manter.

Planejamento financeiro minimalista

Hoje em dia falamos muito sobre essencialismo. Tem palavras que entram na moda e todo mundo começa a usar sem saber muito o real significado delas. Aqui eu me refiro não somente ao significado literário desse termo, mas também ao significado na sua vida. O livro Essencialismo é o maior sucesso, é uma excelente leitura e mostra como uma vida simples pode ser muito mais feliz.

Mas é importante encontrar o Ikigai. Se você não encontrar o seu, você nunca conseguirá ser essencial. Se você não sabe o que é importante para você, as suas escolhas continuarão sendo baseadas na opinião dos outros.

Quando eu encontrei o primeiro Ikigai, sim, gente, esse não é a primeira versão, nem será a última. Nós mudamos, a vida nos convida a mudar. Logo, o Ikigai vai mudar, além disso, encontrar o Ikigai é uma caminhada de autoconhecimento, você vai escrever vários até chegar a um que você sentirá a sua alma nele. Esse processo se chama kaizen em japonês. A indústria usa muito isso. Eu uso na minha vida e você também usa na sua e nem sabe. Sabe aquele bolo que não deu certo na primeira vez? Você come e diz: “hummm…está faltando açúcar”. Na próxima vez, você muda a receita para ficar melhor. Isso é Kaizen. Você faz, analisa os resultados, corrige e faz novamente. Você vai ficar nesse círculo até alcançar o resultado desejado. No caso do Ikigai, será toda a sua vida. Seja paciente com você nesse processo de tentativa e erro. Não se cobre demais. E fácil dizer, eu mesma cometo o mesmo erro, mas conselho é assim, uma forma de nostalgia, pensar que podemos ajudar o outro a não errar.

Bem, você deve estar se perguntando: “o meu planejamento financeiro ficou onde?”. Quando eu cheguei no meu primeiro Ikigai, eu corri para a minha planilha do Excel e refiz meu orçamento.

No curso de inteligência financeira do Gustavo Cerbasi, ele deu aos alunos uma planilha do Excel para controlar o orçamento financeiro. Eu a uso até hoje. Nela há duas colunas que eu nunca tinha conseguido preencher. A coluna de prioridade, o quanto aquele gasto é importante na minha vida.

Agora eu consegui colocar prioridades e explicar porque comprar livros é importante para mim. Porque economizar para ter uma bolsa 2.55 Chanel é superimportante para mim. Porque todo verão nossa família tira férias e vamos para a praia. Tem que ser um lugar que não conhecemos ainda. Estou procurando um lugar para ser meu refúgio quando estiver cansada da vida urbana. Eu parei de comprar em fastfashion, compro poucas roupas e sapatos e sobrou dinheiro para comprar comida orgânica e produto de higiene pessoal orgânico e produzido de forma ecologicamente correta.

E o mais mágico: nunca mais estourei o meu orçamento. Hoje eu consigo viver com 50% do meu salário e tenho uma boa poupança de segurança que garante minha paz e minha noite de sono.

O Gustavo tinha falado disso no curso dele, da importância de cuidarmos da qualidade de vida. Ele fala que não podemos sacrificar demais o presente para ter um futuro melhor. É preciso ter um equilíbrio, caso contrário, não conseguiremos manter o orçamento. Eu tinha entendido tudo isso, mas para mim não foi suficiente, eu precisava ir procurar mais fundo dentro de mim as respostas. No meu caso, as respostas não estavam na superfície.

E um orçamento é algo vivo, como Ikigai, você planeja, mas a única certeza que temos é que vai dar errado. A vida é muito incerta e é ingenuidade da nossa para imaginar que tudo vai acontecer como imaginamos. Use sempre o Kaizen quando der errado, faz, teste, analise, corrija e assim você vai.

Mexer nesse profundo trouxe à tona as minhas crenças limitantes. Nós não somos números, somos humanos carregados de histórias, traumas e lembranças.

Crenças limitantes

Nesse processo eu saí um pouco do Japão e fui para os Estados Unidos. Lá, encontrei o PNL (Programação NeuroLinguística) e apliquei algumas técnicas. A revolução aconteceu quando eu li o livro A Biologia das crenças de Bruce Lipton.   

Doutor Lipton é um médico cristão e os seus textos fazem muita referência à bíblia o que conecta com a minha história de vida. Somos seres com história e nos conectamos através de nossas histórias.

Entre 0 e 7 anos de idade, nosso cérebro trabalha em uma frequência mais baixa, por isso as crianças vivem em um mundo imaginário nessa fase. Tem um texto bíblico em que os Rabi disseram: “Nós de uma criança de até 7 anos que eu a transformo em um individuo sabio”.

Nessa fase vamos construir nossas crenças positivas e limitantes. E as experiências que vivemos e como as vivemos é que vão fazer essa construção. O mais complicado é a família e o ambiente onde vivemos que vão influenciar nisso.

Ele dá o exemplo de uma criança que cresce em uma família miserável. Será muito mais difícil para essa criança construir riqueza porque o ambiente que ela viveu a ensinou que para ganhar dinheiro tem que trabalhar muito. Que o trabalho tem que ser feito mesmo que você não goste.

O problema é que essas crenças ficam dentro do nosso subconsciente e nem sabemos que elas existem. Até que um dia você se pega fazendo algo no automático e você se pergunta: “por que estou fazendo isso?”

Doutor Lipton nos dá um dado importante: 95% das nossas decisões são tomadas de modo automático. É como dirigir um carro, estamos conversando e dirigindo, você está tão acostumado a dirigir que nem presta mais atenção quando troca de marcha.

Um dia eu fui ao mercado e comprei muita comida e acabei jogando fora a metade. Fiquei superchateada comigo e comecei o jogo dos porquês para entender. Jogar comida fora é um pecado, tanta gente passando fome e é ainda, literalmente, jogar o dinheiro no lixo. Como eu já conhecia minha essência, isso era inadmissível para mim. Eu precisava parar com aquilo, mas como?

Primeiro precisava descobrir o motivo. Depois de muito pensar nas minhas caminhadas sozinha e anotar as ideias que vinham da minha mente, uma noite tive um sonho. Sonhei com a minha mãe fazendo mingau para mim e meu irmão Odair.

Acordei às 4 horas da manhã, peguei meu caderninho e anotei. E, assim que eu pude ligar para Brasil, liguei para a minha mãe e perguntei: “Mãe, você fazia mingau para mim e o Odair?”. Eu precisava entender por que essa cena tão simples me angustiava. Ela com uma voz de chorou disse: “Sim, no final do mês, quando a comida acabava e eu não podia mais comprar fiado”. Ela me perguntou o porquê da minha pergunta. Eu só respondi que tinha sonhado com ela fazendo o mingau, mas eu não lembrava de comer mingau. Conversei mais um pouco com ela e, assim que eu pude desligar, peguei o meu caderno e anoitei as informações importantes.

Então, eu usei duas das três técnicas que listo a seguir que você também pode utilizar para trabalhar as suas crenças.

  • Primeiro eu meditei para aliviar a tristeza e a angústia que essa cena me trazia.
  • Depois, eu visualizava a cena, imaginava ela sem som e em preto e branco e ia diminuindo e colocando ela bem longe de mim. Esse processo é bem difícil no começo e é preciso ser feito em um lugar bem calmo.
  • Depois que essa cena não me trazia mais angústia e tristeza, eu usei a técnica do doutor Lipton. Todos os dias antes de dormi, sabe aquele momento em que você está meio sonolento?, nesse momento, nosso cérebro está na mesma frequência de quando éramos crianças, eu me imaginava com minha mãe e meu irmão em uma mesa cheia de comida. Cena do café da manhã, almoço, janta e festa.

 

Qual o resultado? Hoje compro o necessário para no máximo dois dias, gosto de preparar comida bem fresquinha. Nunca mais joguei comida fora.

Você também pode fazer isso, tudo é uma questão de prática.

 

Eu ainda tenho crenças para trabalhar, mas mexer nelas dói, então eu vou no meu ritmo e me respeitando.

Mas, graça a essa caminhada de busca pelo autoconhecimento e por simplificar a vida, eu tenho uma vida minimalista e sou bem mais leve. Busco viver o presente intensamente e acumular sentimentos, lembranças e histórias ao invés de coisas. A vida é muito curta para vivermos uma vida de aparências para agradar aos outros.

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